Aranha amazônica revela composto contra fungos resistentes

A ciência dá mais um passo importante no combate a doenças causadas por fungos. Uma aranha da Amazônia, a Acanthoscurria rondoniae, da família da tarântula, revelou um composto promissor para o tratamento dessas infecções. A descoberta, divulgada pelo Instituto Butantan, abre caminho para o desenvolvimento de novos antifúngicos.
A substância, batizada de “rondonina”, está sendo estudada desde 2012 pela equipe do pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior, do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan. O estudo foca em peptídeos, pequenas cadeias de aminoácidos, presentes no aracnídeo, que vive em ambientes hostis e possui um sistema imunológico simples, necessitando de defesas naturais contra micro-organismos.
A descoberta da rondonina
A pesquisadora Katie Cristina Takeuti Riciluca, aluna de pós-graduação do Dr. Pedro Ismael da Silva Junior, teve um papel fundamental na descoberta da “rondonina”. Ela identificou que a ação do composto no fungo ocorre de maneira intracelular, atingindo diretamente o material genético (dna ou rna), impedindo sua replicação.
“Em conjunto, nossos resultados sugerem que a rondonina ‘mata’ o fungo, não por romper sua membrana, mas por interferir diretamente em processos vitais ligados ao dna”, explica o professor Silva Junior. Essa abordagem, que bloqueia a replicação e desorganiza o material genético, impede que a célula fúngica se divida e sobreviva.
O combate aos fungos
A importância da descoberta é ainda maior quando consideramos o cenário global. A organização mundial da saúde (oms) estima que ocorrem 6,5 milhões de infecções fúngicas invasivas anualmente, resultando em 3,8 milhões de mortes, sendo 2,5 milhões relacionadas a fungos.
Os fungos do gênero candida, por exemplo, são oportunistas e causam diversas doenças, desde infecções superficiais até quadros graves. A candidíase, forma mais comum, pode afetar diferentes áreas do corpo e, em casos mais severos, atingir órgãos internos e a corrente sanguínea, principalmente em pessoas com baixa imunidade.
Vantagens da rondonina
A equipe de pesquisa do Butantan realizou simulações computacionais, lideradas pelo biomédico Elias Muniz Seif, para entender a interação da rondonina com os fungos. Os cientistas destacam que a rondonina possui vantagens importantes, como alta seletividade, baixo custo e ausência de toxicidade.
Testes mostraram que o peptídeo não afeta as bactérias, preservando a microbiota natural do organismo. “Como principal vantagem é um peptídeo de baixo custo, não citotóxico (hemácias humanas e células tumorais) e apresenta atividade com uma baixa concentração e que em apenas 10 minutos já é capaz de impedir o crescimento fúngico ‘in vitro'”, conclui Pedro Ismael.
Com informações de reportagem do Instituto Butantan.
